Além de lidar com o orgulho de Elizabeth Bennet e o preconceito de Fitzwilliam Darcy, a história de Jane Austen também precisa se entender com zumbis na nova versão do clássico que chegará as telonas em 2015. Seth Grahame-Smith manteve 85% do texto da inglesa e enfeitou os outros 15% com sangue, mortos-vivos e luta contra uma peste que assolou o pequeno vilarejo de Meryton. O autor conseguiu notoriedade o suficiente para assinar o livro, vender os direitos e criar um novo filão literário que agora inclui outras versões como "Razão e Sensibilidade e Monstros Marinhos" e Androide Karenina".
A grande pergunta é: isso é justo? Seth Grahame-Smith não inventou o remix literário - que aparece há décadas por ai e inclui figuras brasileiras como Mario de Andrade - mas chamou atenção para o gênero. Quando participei do Rumos Itaú Cultural, Luiza Miguez escreveu sobre o tema em "Os DJs da Literatura" em que explica o movimento mixlit e entrevistou autores que defendem o gênero como uma forma de desconstrução do escritor na visão com o mundo contemporâneo. Minha implicância com esse estilo de "Orgulho e Preconceito e Zumbis" é que o livro é claramente feito para lucrar e fazer graça e não sobre uma nova estética, como mostra a matéria de Luiza.
(Book trailer da continuação, "Pride and Prejudice and Zombies: Dawn of the Dreadfuls", pra sentir bem o clima de como "Orgulho e Preconceito será adaptado nos cinemas)
A Quirk Books, editora que distribui os livros "remixados", escolheu várias obras clássicas que entraram em domínio público, misturou com temas engraçados como ninjas, robôs e zumbis e lucrou em cima das releituras. Ao entrar em domínio público, a obra pode ser copiada sem a autorização do autor, editor ou qualquer representante, o que a grosso modo diz que dando o crédito, você pode escolher os textos que quiser e ser feliz com um remix literário. Transformações como a de "Orgulho e Preconceito e Zumbis" me faz sentir que não estão valorizando os personagens criados pelo autor, como se não tivesse respeitando a própria essência do autor.
Por outro lado, a adaptação chamou atenção de quem tinha preconceito de ler um clássico como mostra a orelha engraçadinha do livro ao se autodeclarar “uma obra-prima da literatura em algo que você terá vontade de ler”. Em entrevista ao "Prosa e Verso" do O Globo o editor da versão com mortos-vivos Jason Rekulak conta que toda uma geração se interessou pelo clássico e deu o exemplo de uma professora que atraiu seus alunos de 15 anos para "85% de Jane Austen" com "Orgulho e Preconceito e Zumbis".
O livro já virou jogo de celular, HQ e agora chega ao cinema. Com essa entrada com o pé na porta no mundo pop, os novos leitores devem continuar a aparecerem, o que é maravilhoso, mas será que vale a pena? Será que transformar a família Bennet em ninjas caçadoras de zumbis é a chave para conseguir novos leitores e fazer com que alguns percam o preconceitos com obras clássicas? Eu não sei a resposta mas vou continuar com minha implicância sobre essas versões, elas não são adaptações inteiramente reescritas, com nova cara e novo apelo, são o texto antigo entregue com uma nova roupagem engraçadinha e com menos charme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário